Breve Resumo
Este vídeo da aula de Artes Visuais da UECE explora a relação entre arte, magia e máscara, com foco nas perspectivas da antropologia e sociologia da arte. O professor discute as obras de Claude Lévi-Strauss e Marcel Mauss, abordando temas como o pensamento selvagem, o animismo, a importância do coletivo e a desconstrução de preconceitos sobre culturas não ocidentais. Além disso, analisa a função da máscara em diferentes sociedades e a distinção entre arte tradicional e popular, culminando na discussão sobre a apropriação cultural e a identidade nacional na arte brasileira.
- Distinção entre antropologia e sociologia da arte.
- Análise do pensamento mágico e da importância do coletivo.
- Desconstrução de preconceitos sobre culturas não ocidentais.
- Reflexão sobre a função da máscara e a relação entre arte e técnica.
- Discussão sobre a apropriação cultural e a identidade nacional na arte brasileira.
Introdução [0:02]
O professor inicia a aula, desculpando-se pelo atraso devido a problemas técnicos. Ele informa que dará continuidade ao estudo do uso de Barroso, abordando a unidade quatro, que trata de arte, magia e máscara na obra de Oswald de Andrade. O professor menciona que haverá mais um encontro para discutir a prova.
Antropologia da Arte vs. Sociologia da Arte [0:56]
O professor explica a tênue distinção entre antropologia e sociologia da arte. A sociologia da arte se concentra nos meios de produção, recepção e distribuição da arte na sociedade, enquanto a antropologia da arte vincula a obra de arte como uma manifestação simbólica do homem, frequentemente em culturas primitivas e antigas. Ele cita exemplos como a arte rupestre e a evolução da representação da natureza.
A Lógica do Pensamento Selvagem e a Magia [3:19]
O professor aborda a lógica do pensamento selvagem da magia, mencionada por Lévi-Strauss, que busca restaurar uma antiga ordem do mundo e a conexão natural entre a expressão artística e o mundo natural. Ele destaca a importância de considerar que a arte, por muito tempo, assumiu uma posição de destaque na elite cultural, com a crença de que apenas povos civilizados alcançaram um estágio superior da técnica artística.
Lévi-Strauss e o Pensamento Mítico [5:52]
O professor explica que Lévi-Strauss, em sua obra "O Pensamento Selvagem", busca uma conexão natural que havia entre o mistério da natureza e a busca da ordem do universo. Ele esclarece que o pensamento mágico não se refere à alquimia, mas sim ao pensamento mítico, exemplificado pela mitologia grega e pela obra "Macunaíma" de Mário de Andrade. O professor ressalta que Lévi-Strauss procura uma abordagem diferente da realidade, relacionando-a com o ser humano, e não com estágios de evolução da sociedade.
Marcel Mauss e a Etnologia Francesa [9:29]
O professor apresenta Marcel Mauss, considerado o pai da etnologia francesa, que se preocupou em buscar nas colônias civilizações não desenvolvidas tecnologicamente. Ele destaca o ensaio de Mauss sobre a dádiva, que analisa o sistema de trocas em pleno capitalismo. O professor menciona que Mauss influenciou Lévi-Strauss, Pierre Bourdieu e Michel Foucault, e que ele projeta esses povos e populações em direção ao animismo e à religião, como um grande sentimento do mundo que auxilia o homem na compreensão das coisas.
Leis da Magia Simpática [13:21]
O professor explica que Mauss distingue, nessas culturas não científicas, o conhecimento da medicina e procura uma abordagem sobre outros aspectos que haviam sido deixados de lado. Ele cita as leis da magia simpática, como a lei da contiguidade ou do contágio, e a lei da similaridade, que afirma que o semelhante evoca e produz o semelhante. O professor também menciona a lei da contrariedade, que diz que o contrário atua sobre o contrário.
Mana e a Quarta Dimensão [16:48]
O professor aborda o conceito de "mana", uma propriedade mágica de objetos ou seres vivos, que vem de uma característica fortuita, rara ou paradoxal. Mana é uma força espiritual, uma manifestação do divino, ligada ao animismo. Ele explica que mana não é uma forma de compreensão individual, mas sim uma visão de mundo condicionada pelo coletivo, que só existe desde que haja um acordo tácito de crença compartilhada. O professor relaciona o ponto, o plano e o espaço com as três dimensões, e mana como a quarta dimensão, a conexão espiritual.
Rituais e Transes Xamânicos [20:41]
O professor explica que os processos de êxtase acontecem frequentemente nos transes xamânicos, que envolvem não apenas o mágico, mas também um conjunto de outros participantes. Ele menciona que esses rituais se desenvolvem com a participação de toda a coletividade, que compartilha a mesma crença. O professor cita exemplos como a dança das mulheres enquanto os homens caçam e os torcedores de um jogo de futebol.
Máscaras e Rituais na Cultura Grega [22:48]
O professor destaca que máscaras e rituais não são exclusivos de povos indígenas, mas também presentes na cultura grega. Ele explica que a máscara pode significar a privação da individualidade, mas também a libertação para fazer coisas que não faria em outras situações. A máscara pode representar uma entidade espiritual, uma força da natureza, e expressar uma narrativa coletiva, reforçando normas e hierarquias sociais.
A Função da Máscara de Górgona [25:14]
O professor explica que a máscara de Górgona, da mitologia grega, tinha o poder de petrificar seus inimigos. Ele questiona qual seria a função dessa máscara, e sugere que ela poderia representar uma proteção contra o mal, afastando espíritos malignos e o azar. A máscara também poderia representar um poder, intimidando o oponente, e ser um elemento de ritual, dramatizando mitos.
A Estética e o Belo [28:11]
O professor responde a uma pergunta sobre o reconhecimento da cultura e tradução dos povos antigos como técnica. Ele explica que o conceito de arte é uma atribuição relativamente recente, e que a arte para aquele povo era técnica, sem um sentido estético ou valoração. O professor destaca que a arte pública e os museus são recentes, e que a arte cultuada era aquela que a elite podia pagar.
Fine Arts vs Artesanato [30:53]
O professor discute a distinção entre "fine arts" e artesanato, e como o capitalismo pretendeu libertar a arte de seu valor utilitário. Ele explica que a separação entre as artes e o artesanato se deu quando se percebeu que algumas peças tinham valor único e poderiam ser capitalizadas. O professor cita Andy Warhol como um artista que brincou com essa história, reproduzindo figuras em série.
Funções da Arte [37:58]
O professor aborda as funções da arte, como a mágica religiosa, a terapêutica, a pedagógica, a social e a política. Ele destaca a função terapêutica de cura e a comunicação com os espíritos ou com a natureza como as duas funções mais básicas da manifestação artística. O professor ressalta que a preocupação com a autoria e o valor estético do objeto é marcante nas traduções populares, e cita exemplos como a escola de ceramistas de Caruaru e a escola dos pintores do Pirambu.
A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica [40:50]
O professor menciona o livro "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica" de Walter Benjamin, que aborda como a obra de arte pode ser produzida tecnicamente ao infinito. Ele explica que a arte deixa de ter uma função ritual religiosa e passa a ter uma função política. O professor cita exemplos como a reprodução em série da figura de Trump em canecas, que adquire uma visão crítica política e social.
Cultura Popular e os Griôs [43:14]
O professor dá exemplos de outros povos, como os griôs, mestres do cântico da palavra, e os cantadores do Ceará. Ele destaca que esses artistas exercem outras funções na lavoura, mas também são responsáveis por preservar, cantar e dançar a tradição da cultura. O professor menciona que esses artistas não entendem aquilo como arte, e cita um concerto que fez com os irmãos Anicetos no Teatro José de Alencar, que transformou a manifestação popular em música de concerto.
Mestres da Cultura e a Descaracterização da Arte Popular [46:16]
O professor aborda a criação dos mestres da cultura, que são celebrados como entidades responsáveis por fazer com que a tradição de um povo não se acabe. Ele questiona se a arte popular é desinteressada, e se o fato de pagar esses artistas populares não faz com que eles percam a aura e a ingenuidade original. O professor faz uma ligação entre o nordeste brasileiro e algumas tradições africanas, e cita exemplos como Valdemar dos Passarinhos e Patativa do Assaré.
Cultura Popular e a Magia [51:55]
O professor afirma que a cultura popular parece estar mais embasada na magia e na cosmovisão, retendo uma conexão com o conhecimento mítico e a percepção anímica da natureza. Ele cita exemplos como os carnavais populares e os jograis, que resultaram na transformação de antigas entidades míticas em figuras e brinquedos populares.
Arte Tradicional vs Arte Popular [53:51]
O professor discute a dicotomia entre arte tradicional e arte popular, e como a cultura passou a ser combatida como pagã e licenciosa com o advento da reforma protestante. Ele explica que houve um movimento de mascaramento, com a cristianização da cultura e a sincretização com o catolicismo. O professor destaca que muitas coisas sobreviveram, inclusive do contrário, como a influência do reisado na cultura popular.
A Semana da Arte Moderna e a Busca pela Brasilidade [56:30]
O professor menciona a Semana da Arte Moderna de 1922 como uma reafirmação da brasilidade, em um momento em que o Brasil vivia sob a influência da arte e dos costumes franceses. Ele destaca a figura de Mário de Andrade, que criou o personagem do Macunaíma, e que foi acusado de plágio. O professor explica que o Macunaíma é um personagem que roubou de uma pesquisa de um naturalista alemão, Theodor Koch-Grunberg, que coletou várias histórias da mitologia brasileira.
A Apropriação Cultural e o Muiraquitã [1:01:00]
O professor explica que o Macunaíma foi extraído de uma coleção de um etnógrafo alemão, e que o muiraquitã, um amuleto sagrado, também foi levado dos povos indígenas da Amazônia. Ele destaca que até o maior personagem da mitologia brasileira foi extraído de uma coleção de um etnógrafo alemão.
Atividade e Recomendações [1:04:38]
O professor fala sobre a atividade da aula, que é em cima de um vídeo, e recomenda o artigo de Alfred Gell, "A Definição do Problema: A Necessidade de uma Antropologia da Arte". Ele destaca que o artigo traz muita informação e referência bibliográfica importante, e que é complementar à visão do Barroso.
A Necessidade de uma Antropologia da Arte [1:07:23]
O professor destaca alguns pontos do artigo de Alfred Gell, como a expressão teoria antropológica da arte, que difere da teoria da arte ou da história da arte. Ele menciona a visão etnográfica e a importância de modificar o olhar esteticamente discriminador. O professor ressalta que a antropologia da arte focaliza o contexto social da produção, circulação, recepção da arte e avaliação de obras de arte específicas.
A Crítica de Alfred Gell [1:14:56]
O professor destaca a crítica de Alfred Gell, que afirma que as teorias antropológicas existentes não dizem respeito à arte, mas sim a assuntos como parentesco, economia, gênero e religião. Ele explica que o objetivo é criar uma teoria sobre a arte que seja antropológica, e que as abordagens antropológicas estão distantes daquilo que ele julga.
Sociologia da Arte vs Antropologia da Arte [1:17:46]
O professor explica que a antropologia da arte se detém da cultura de um povo, enquanto a sociologia da arte está preocupada em alertar a conexão entre a arte e as suas instituições. Ele destaca que o artigo de Alfred Gell exige uma leitura mais cuidadosa, e que é uma contraposição ao texto do Barroso.
Conclusão [1:21:19]
O professor informa que o próximo encontro será para falar sobre a prova, e que a prova será fácil, com 10 questões de múltipla escolha. Ele agradece a atenção dos alunos e encerra a aula.
Discussão e Comentários Finais [1:23:50]
O professor responde a perguntas dos alunos sobre a relação entre a técnica e a cultura na arte popular. Ele discute como a antropologia questiona o apego à técnica e como a tradição oral é repassada nos grupos de cultura popular. O professor destaca que a antropologia questiona tudo isso para que não sejamos ludibriados e saibamos o que estamos fazendo. Ele conclui que o objeto de estudo da antropologia é a cultura, e que o objeto artístico é apenas um elemento simbólico daquela cultura, da tradição e daquele local.