Breve Resumo
Este vídeo do Professor Navarro explora diversos aspectos da cultura afro-brasileira e africana, incluindo a definição de "oriqui", a representação de Iemanjá no Brasil, o ritual de Olubajé, provérbios yorubás, a tradição oral dos griôs, contos africanos, a linguagem do candomblé, a influência das línguas africanas no português brasileiro e a importância das mulheres nos candomblés. O vídeo também aborda a intolerância religiosa e a busca por tempo para curar em meio às dificuldades.
- Exploração da cultura afro-brasileira e africana.
- Discussão sobre linguagem, tradições e religiosidade.
- Reflexões sobre resistência cultural e a importância da memória.
O que é Oriqui? [2:15]
O oriqui é definido de diferentes maneiras dependendo do contexto cultural. No geral, oriqui significa leitura, mas na cultura iorubá, pode ser interpretado como "saudar a cabeça", uma saudação. No candomblé, oriqui significa evocar, com a intenção de saudar, evocar e conversar com a energia de Exu. O professor ressalta que essa é sua visão pessoal e incentiva a pesquisa individual para formar a própria compreensão.
A Representação de Iemanjá no Brasil [5:55]
A imagem de Iemanjá no Brasil foi transformada para ser tolerada pelo colonizador cristão, passando a ser retratada como uma mulher branca de traços europeus. Essa mudança retirou dela o símbolo de maternidade e ancestralidade, sexualizando a imagem. A Iemanjá original dos povos iorubás é uma mulher preta, de corpo largo, carregando oferendas e representando a força ancestral. O vídeo questiona a ausência de representações semelhantes na iconografia católica e critica o embranquecimento e a adaptação da espiritualidade africana para se adequar ao olhar do colonizador.
Olubajé: O Banquete Sagrado de Omolu [7:28]
Olubajé é um banquete sagrado dedicado a Omolu, o senhor da terra. A origem do ritual remonta a um itã onde Xangô exclui Omolu de uma festa devido à sua aparência. Em resposta, os outros orixás abandonam a festa e levam oferendas a Omolu, estabelecendo um acordo para realizar uma festa anual em sua honra, onde todos os orixás são reverenciados, exceto Xangô. O Olubajé é mais do que um banquete, é um ritual de equilíbrio que busca garantir a sobrevivência, afastar a doença, a morte e a desordem, renovando a vida no corpo, na alma e na comunidade.
Provérbios Yorubás e Reflexões [8:47]
O vídeo apresenta provérbios yorubás que oferecem ensinamentos sobre força, resiliência e sabedoria. Um deles destaca que "ninguém se junta para derrubar o fraco", enfatizando que a oposição enfrentada é um sinal da capacidade de alcançar grandes feitos. Outro provérbio ensina a importância de fazer tudo no seu tempo, comparando com a lagarta que devora a folha pouco a pouco. Além disso, o vídeo ressalta que a morte pode ser encontrada em vida, quando se deixa de lutar e cuidar de si mesmo, incentivando a viver de forma plena e feliz.
Os Griôs: Guardiões da Tradição Oral [15:16]
Os griôs eram contadores de histórias, genealogistas, músicos e poetas responsáveis pela transmissão da tradição oral no antigo império do Mali. Eles eram guardiões da memória das lutas e glórias de seu povo, utilizando instrumentos como o corá e o balafom. No Brasil, a prática dos griôs inspirou associações que valorizam a tradição oral, como a Griz, que busca reviver a tradição africana em asilos e hospitais, e a Ação Griô, que apoia projetos pedagógicos em comunidades indígenas, quilombolas e terreiros.
Conto Africano: Oluquê [18:44]
Oluquê é um conto da tradição oral africana sobre um homem trabalhador que não parava, independentemente das condições. Um dia, durante uma tempestade, ele continuou cortando lenha até que um raio o atingiu e o transportou para a lua, onde se transformou em uma estátua. A história, aprendida com um nigeriano, ilustra como os valores e conhecimentos são transmitidos oralmente de geração em geração na cultura africana.
A Linguagem do Candomblé [22:01]
A linguagem do candomblé é definida como a linguagem cultual usada nos cultos de matriz africana no Brasil, que consiste em sistemas lexicais de línguas africanas. Essa linguagem não é uma competência linguística plena, pois ninguém fala mais iorubá ou outras línguas africanas como língua principal no Brasil, mas sim uma competência simbólica. O segredo e a falta de necessidade de saber o significado literal das palavras são elementos que sustentam a fé. A pesquisa revelou a importância da nação Angola no candomblé, contrariando a ideia de que a influência iorubá era predominante na Bahia.
Influência Iorubá e Banto no Brasil [24:12]
No século XIX, Rodrigues destacou a presença de falantes iorubás na Bahia, atraindo pesquisadores que enfatizaram a influência iorubá no Brasil, especialmente na Bahia, enquanto a influência banto era vista como predominante no resto do país. A língua iorubá, com sua escrita literária, foi considerada superior em relação às outras, incluindo as línguas banto. Os candomblés estão divididos em nações de acordo com as origens étnico-religiosas dos negros escravizados, como Angola (banto), Cambinda ou Mina (cultura Ewe-Fon) e Keto (cultura iorubá).
Candomblé: Religião Afro-Brasileira [28:41]
O candomblé não é uma religião africana, mas sim afro-brasileira, recriada e remodelada no Brasil a partir das memórias e lembranças dos negros escravizados. Diferentemente da Nigéria, onde cada cidade tem um orixá patrono, no Brasil todos os orixás se reuniram em uma única manifestação, demonstrando resistência e continuidade cultural na opressão. A língua cultual, usada para saudar os deuses, sacraliza objetos através do uso de palavras de origem negro-africana, que se tornam sagradas dentro do ritual.
A Africanização do Português Brasileiro [32:27]
Os africanos escravizados foram obrigados a falar português, adaptando a língua às suas próprias línguas. A maioria dos "ladinos" (africanos que falavam português) eram falantes de línguas banto, o que facilitou a adaptação devido às semelhanças entre as estruturas linguísticas do português arcaico e das línguas do Congo e Angola. Essa coincidência explica a ausência de "falar crioulo" no Brasil, ao contrário de Guiné-Bissau, onde as estruturas linguísticas são diferentes. O português brasileiro se diferencia do português de Portugal, principalmente na pronúncia das vogais e na inserção de vogais em grupos consonantais, influenciado pelas línguas banto.
O Papel das Mulheres nos Candomblés da Bahia [35:40]
As grandes mulheres, as ialorixás e mametos dos candomblés da Bahia, são as fundadoras e sustentadoras dessa religião e da sociedade baiana. Diferentemente da África, onde existem sacerdotes de Xangô com penteados específicos, no Brasil os homens africanos não tiveram as mesmas condições de se organizar devido ao trabalho no campo. As mulheres, empregadas em serviços domésticos e como vendedoras, tiveram tempo e condições financeiras para liderar e manter os candomblés. O ditado "segunda-feira é dia de branco" reflete a imposição do trabalho escravo após o domingo, dia de folga e de "samba" (oração).
Tradição Oral: Conceito e Definições [38:53]
A tradição oral é definida como o conjunto de hábitos e costumes de um povo transmitidos por ações e palavras, como a forma de comer, saudações e vestuário. Também se refere aos métodos utilizados para a transmissão desses hábitos e costumes de uma geração a outra, através de rituais de iniciação, educação e lugares físicos específicos, como igrejas, templos e o "jango" (lugar de reunião nas culturas banto). A educação ancestral e os rituais de iniciação são extensões da educação, transmitindo conhecimentos de geração a geração.
O Continente Africano e Suas Tradições [43:16]
A África é um continente com mais de 50 países e uma rica bagagem cultural, muito mais antiga que a do continente americano. O continente é dividido por grupos linguísticos, com uma diversidade de línguas e tradições. Muitas das tradições brasileiras têm origem africana, como músicas, lendas, trovas, poesias, brincadeiras e danças. Símbolos africanos representam a sabedoria e a busca pelo conhecimento. Os "crioulos" são os guardiões da tradição africana, responsáveis por ensinar os conceitos, culturas e legados, utilizando a oralidade e instrumentos musicais.
Intolerância Religiosa: Um Problema Histórico [51:19]
Um trecho da "Tenda dos Milagres" de Jorge Amado ilustra a intolerância religiosa, mostrando como a fé africana é comparada à bruxaria, enquanto o cristianismo é visto como superior. A personagem questiona por que Jesus pode "baixar" na Terra, mas Xangô não. A intolerância religiosa é um problema histórico que persiste até hoje.
Tempo de Curar: Uma Reflexão Poética [53:31]
O vídeo encerra com uma reflexão poética sobre a febre (metáfora para as dificuldades e doenças) e a busca por cura. Omolu, Iansã e Oxalá são invocados para trazer a cura e a paz. Ossanha descobre o remédio, e Oxumaré leva o segredo à humanidade. Há tempo para plantar, colher, viver e curar. O tempo é intemporal, e há um tempo para curar o tempo.